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27 de abril de 2011

Vazio.

Ela não usava pulseiras , marcas de cortes e queimaduras enfeitavam seus braços.
Ela não aguentava mais as brigas em casa, nem o cigarro que antes a entorpecia fazia mais efeito. Ela não sentia nada, então, na tentativa de voltar a sentir, se agarrava a lâmina que havia retirado de um " gilette" , e a forçava contra sua pele, cada dia mais fundo. Os gritos que antes soltava nas brigas, sumiram. As unicas coisas que saiam do seu corpo eram sangue e lágrimas.
 Ela fazia de tudo para fugir do vazio que a ia comendo lentamente, mas a dor era a unica coisa que surtia efeito.  Mais alguns cortes, ia para o banheiro, se lavava e lá chorava. Chorava tanto que chegava a um ponto que ela nem se quer percebia as lágrimas lhe caindo do olho, se misturando com a água que lhe limpava o corpo vazio, só as percebia, quando seu gosto salgado chegava-lhe a boca.
Ela não comia mais como antes. Começou tirando o jantar, e depois o lanche, agora só tomava café da manha e almoçava, pouca coisa.
A questão era, ela se maltratava, tinha amor a vida dos outros mas nenhum a sua própria. Queria morrer, queria tanto morrer que lhe doia quando um carro passava e ela não estava possicionada a sua frente.
Mas poucas pessoas sabiam disso. Poucas pessoas realmente a conhecia.
Por fora, ela era a menina que ria com os amigos das coisas mais idiotas do mundo, a menina do cabelo estranho e uma blusa de frio que não lhe saia do corpo (para cobrir suas marcas). só. Mas por dentro, ela tinha muitos piercings e tatuagens, ela tinha uma casa onde morava com os amigos.
Ela não era nada além de esperanças dilaceradas, de sonhos destruidos, ela era pura e simplesmente VAZIA.
E quando o vazio a consumiu, ela não tinha mais pelo que suportar aquilo que chamam de vida. Então pela primeira vez, ela fez algo por ela. Atirou-se na frente de um carro, que vinha tão rápido que atirou seu frágil e vazio corpo, do outro lado da avenida. E quando recolheram seus restos mortais, curiosamente seu rosto estava intacto, e viram nela algo que a muito lhe era desconhecido. Um sorriso.


                             "Uma vez que o vazio faz parte de você, ele jamais te deixa por completo."